quarta-feira, 18 de maio de 2011

Banco de jardim


Chego ao jardim e vejo-te ao longe, rouba-me o ar esta tua visão, e tento recuperar.

Sento-me ao teu lado, naquele jardim frio e abandonado.

A chuva cai-me na cara mas sorris me com uma doçura que me aquece e aconchega. Tocas-me de leve na mão e voltas a olhar o vazio.

“Estiveste a chorar?” – pergunto-te baixinho.

“Consegues olhar-me nos olhos e dizer-me que és feliz, sem hesitar?” – replicas.

“Ninguém é feliz sempre.. “ – segredo-te bem junto do ouvido.

“Então... eu choro com a natureza” - dizes apontando para a chuva.

Desta vez olhas para mim e perco-me nesses olhos, rasgados pela dor das lágrimas que deixaste correr, o verde gasto pelo mundo que te contêm.

“Não percas a motivação, não conseguia viver sem ti sabes disso”- confesso

“ Estamos a ficar lamechas .” – dizes enquanto limpas os olhos e me abraças.

Perdido no teu calor perdi a noção do tempo e ao fim de segundos que souberam a pouco dizes me que me amas. Sei que me mentes, que nem te amas a ti mesma, que não consegues por mais que tentes.

“Sabes que o vento me leva o espírito a cada passo em falso.” – dizes me querendo voar.

“ Agarra-te a mim então, não te deixarei desaparecer! ” – tento em vão proteger-te

“Nada é infinito, e por mais que me tentes sabes que não consigo ficar sem te consumir aos poucos.” – respondes e desta vez sou eu que choro.

Limpas-me o rosto e beijas-me. Fecho os olhos na tentativa de manter este momento no meu coração.

Abro os olhos e já não estas aqui.

O vento sopra-me o doce som da tua voz num grito de “até um dia”.

Paixão consumida na brisa de um inverno que ameaçava chegar. De coração gelado bafejo no cigarro e deixo a loucura contida naquele banco de jardim.



Sem comentários: