
A sala de reuniões no palacete cheirava a um incenso pesado e a café. Dirijo-me á janela, tentando fugir do incenso que me sufoca o ar.
Estás 10 minutos atrasada como de costume; aproveito o tempo para apreciar o café e despertar a mente naquele campo que se estende para lá da janela. Sei que combinamos não fazer grandes filmes na nossa reunião, mas deixas me acordado a sonhar que queres ? A preocupação não cessa com a cabeça, está no campo do sentir, do amar.
Tocas me no ombro e assusto-me.
“Pensavas em quê?” – perguntas desconfiada.
“A minha cabeça contempla sítios que não quererias visitar.” – respondo tentando não ser transparente a esse verde cansado do teu olhar.
“Tenta me um dia.” – desafias-me.
“Nem todo o tempo do mundo chegava para te deixar entrar.” – mostro-te o ressentimento de teres desparecido há anos, sem rasto do meu radar.
“No entanto cá estamos no mesmo lugar, senti saudades tuas.” – beijas me docemente no rosto.
“Que precisas?” – respondo travando o sentimento de te levar pelo mundo e esquecer tudo.
“Precisava de te ver só isso, sabes que apesar de tudo és o único capaz de me acalmar, não te chamei família durante anos só para te cravar!”
“Desta vez quem ficou lamechas foste tu.” – replico num um sorriso.
Passeamos pelo jardim, contas me as tuas novas aventuras, e sinto-me num conto de fadas, vejo que o mundo te deixou cansada mas não perdeste a chama que sempre me atraiu, a essência do teu ser num simples olhar.
Ignoro as marcas que a vida te deixou no corpo e lembro-me de quando éramos felizes, de quando partilhávamos o palácio e manchava-mos o jardim com a inocência do nosso agir.
“ Sabes que nascemos reis ?” – perguntas me antes de partir novamente.
Deixas-me envolto em pó, mais uma vez sem saber quando o vento te trás de volta e me dá esse prazer de te recordar e acompanhar.
Só hoje, 2 anos depois percebi o que querias dizer. Reis na nossa cumplicidade, unidos pela maneira de voar.
Perdidos num mundo que não nos compreende e como herança a propensão para uma loucura que combatemos a cada acto de pensar.
Que a sorte te acompanhe, porque tudo o resto ja nos falhou.
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